Na madrugada desta sexta-feira (23), foi divulgada através das redes sociais, a morte da jovem Daiane Dornellas, de 21 anos, em decorrência de uma hepatite viral, agravada por anorexia nervosa, no Rio Grande do Sul (RS).
Pesando 48 kg em 1,65 m de altura, a gaúcha dizia se alimentar apenas duas vezes ao dia enaltecia sua magreza por meio das redes sociais, o que fez dela uma “webcelebridade”.
Em uma de suas fotos no Instagram, ao mostrar sua barriga, lisa, com os ossos aparentes, ela escreveu: “Saudades gordura”.
Para o psiquiatra Renato Mancini, do hospital São Luiz, em São Paulo, pessoas como Daiane, que sofrem de anorexia nervosa, têm a necessidade de definir-se pela aparência, anulando outros fatores como personalidade, saúde e bem-estar.
— O que define essas pessoas é uma coleção de fotos no Instagram. A percepção de identidade corpórea delas fica muito complicada e quanto mais imagem, quanto mais magra, mais o medo de não ser aceita é aliviado. Isso acontece através de uma busca, como, por exemplo, da chamada “barriga negativa”.
O pensamento comum de quem sofre anorexia é o de que quanto mais peso perder, melhor será. Segundo Mancini, o risco de morte é grande e tanto pode acontecer pela desnutrição como por complicações clínicas, a exemplo do caso de Daiane.
— O paciente que sofre de anorexia começa a ficar debilitado e a chance de morte é grande quando o peso está muito mais abaixo do que o normal. Ficam com a saúde tão frágil quanto a de um idoso. O corpo fragilizado não funciona direito e está suscetível a muitas doenças.
A anorexia é um distúrbio alimentar que se caracteriza como um emagrecimento exagerado, causado pela desnutrição e distorção da própria imagem corporal, conforme explica endocrinologista João César de Castro Soares, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
— O paciente se acha acima do peso, quando, na realidade, está abaixo. O importante para identificar a doença é tentar intervir o quanto antes. Assim que o emagrecimento excessivo for percebido, procure ajuda.
O tratamento de distúrbios alimentares como a anorexia é multidisciplinar. Psiquiatras, nutricionistas, endocrinologistas e terapeutas dão o suporte adequado para diminuir os quadros associados à doença: depressão, distorção da imagem e desnutrição.
— A família deve participar. É uma doença crônica, atinge a todos. Não é fácil tratar.
Mas, como identificar? Comum em mulheres, o médico explica que, atitudes como esconder o emagrecimento, tomar laxantes e induzir o vômito após a refeição são alguns sintomas da doença.
— É uma escolha da paciente. Ela esconde que está emagrecendo, coloca duas calças, duas blusas. Come na rua, não janta com os pais, recusa convites para comer fora, e quando sai, ingere muita bebida alcoólica e tem um quadro depressivo paralelo a todos esses sintomas.
O especialista acrescenta que também é preciso ficar atento ao uso indiscriminado da internet por adolescentes entre 14 e 18 anos, faixa etária que o índice da doença é mais prevalente. Segundo ele, de cada 10 casos, nove são meninas e um menino.
— Existem sites que fazem apologia à anorexia. Já internei uma menina de 12 anos, com anorexia, obcecada por emagrecer desde os nove anos e que aprendeu a maioria dos comportamentos que a levou à doença através da internet. É preciso cuidado e atenção.
da redação: Maria Helena Araújo/jornalista/fonte R7 Saúde
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