Embora o Ministério da Saúde recomende a realização periódica da
mamografia somente a partir dos 50 anos, um novo estudo feito pelo A.C.
Camargo Cancer Center traz de volta a polêmica sobre a idade a partir da
qual as mulheres devem fazer o exame capaz de detectar o câncer de
mama.
Levantamento do hospital com 4.527 pacientes mostra que
40% das mulheres que receberam o diagnóstico da doença entre os anos de
2000 e 2010 no centro médico tinham menos de 50 anos e não descobririam o
tumor se tivessem seguido a orientação do ministério. Do total de
pacientes acompanhadas, 11,4% descobriram a doença até os 39 anos e
outras 28,7%, entre os 40 e os 49 anos. A Sociedade Brasileira de
Mastologia recomenda o exame a partir dos 40 anos.
"Não podemos
dizer que os dados do A.C. Camargo refletem toda a realidade brasileira,
até porque somos um centro de referência em oncologia e isso leva a
mais diagnósticos precoces. No entanto, esse estudo mostra que vale a
pena investir na mamografia mais cedo. Sabemos que a curva de incidência
da doença começa a aumentar a partir dos 40 anos e, quanto mais cedo
descoberto o tumor, maior a chance de cura", diz Fabiana Baroni
Makdissi, cirurgiã oncologista e diretora de Mastologia do A.C. Camargo.
Os dados do levantamento provam o quanto o diagnóstico precoce é
decisivo no sucesso do tratamento. Do total de mulheres que descobriram a
doença no estágio 1, 96,1% estavam vivas após cinco anos. No grau 2,
eram 89,2%. No estágio 3, o índice foi de 71,6%, número que caiu para
30,3% no estágio 4, o mais avançado.
Sinal. Diagnosticada com câncer de mama aos 37 anos, a supervisora de
vendas Patrícia Rosa Moreira, hoje com 40, atribui à sorte a realização
da mamografia que a fez descobrir a doença. "Foi por acaso. Eu fui doar
sangue e deu uma alteração nas plaquetas. Resolvi fazer um check-up e
pedi para a médica uma guia para fazer mamografia. Ela não queria dar de
jeito nenhum, disse que eu ainda não estava na idade, mas eu bati o pé e
ela deu", conta.
O exame feito em 2014 detectou o tumor no grau
2. A supervisora teve de retirar a mama esquerda, fazer 16 sessões de
quimioterapia e 25 de radioterapia. "O câncer já estava com 4
centímetros e eu não tinha nenhum sintoma, ele não era palpável. Nunca
descobriria sem um exame. Se eu tivesse feito a mamografia aos 50 anos,
ele já estaria espalhado pelo corpo."
O tratamento terminou em
dezembro de 2015 e, hoje, Patrícia aguarda pela cirurgia de reconstrução
mamária, prevista para dezembro ou janeiro. "Enquanto eu estava no
hospital, conheci muitas moças, de menos de 30 anos, com a doença. Acho
errado passarem a mamografia só a partir dos 50 anos."
O
Ministério da Saúde diz que segue a recomendação da Organização Mundial
da Saúde (OMS), de realização da mamografia para fins de rastreamento
entre os 50 e 69 anos, porque "essa é a faixa etária com maior
efetividade na prevenção e que possui evidência científica de impacto na
mortalidade".
A pasta diz ainda que orienta os médicos a
solicitarem o exame antes às pacientes que tenham histórico da doença na
família, especialmente se uma parente de primeiro grau tenha recebido o
diagnóstico antes dos 50 anos. Nesses casos, a recomendação é que as
mulheres passem por avaliação médica a partir dos 35 anos para que sejam
definidos os exames necessários. Isso porque, no caso de mulheres mais
jovens, com estrutura mamária diferente por causa da idade, nem sempre a
mamografia é suficiente - podem ser solicitados ultrassom ou
ressonância magnética.
Polêmica
Há quem critique
a realização de mais mamografias para fins de rastreamento por causa do
risco de resultado falso positivo - quando o exame inicial aponta a
presença de uma lesão que não se confirma maligna em exames adicionais.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e
Comunidade, a recomendação para realização da mamografia periodicamente
não resultou em queda da taxa de mortalidade por câncer de mama. Além
disso, diz a entidade, o falso positivo pode causar danos às mulheres,
como ansiedade, estresse e procedimentos desnecessários.
A
oncologista do A.C. Camargo afirma que os benefícios do rastreamento são
maiores do que os malefícios. "Por mais que, em alguns casos, a
mamografia aponte a suspeita e ela seja descartada depois, em outros
casos, o exame vai possibilitar que a mulher descubra mais cedo e tenha
mais chances de cura", afirma Fabiana.
Maria Helena Araújo/jornalista/fonte/ UOL Ciência e Saúde
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