A explicação para a dificuldade de emagrecer não passa pelo estômago. É questão de emoção. “Ansiedade, tristeza ou mesmo casos de depressão temos alteração da dieta. Um episódio de ansiedade pode fazer com que nós não atentemos quantidade que estamos comendo. Se estou triste, posso não prestar atenção ou usar aquilo como compensação”, diz Sebastião de Sousa Almeida, professor titular depto de psicologia da USP.
A gente come quando precisa e também come quando quer sentir prazer. Engordar é quando junta a fome com a vontade de comer. “A alimentação não pode ser dissociada, assim como a sexualidade, do seu aspecto prazeroso. É uma necessidade prática e também uma fonte de desejo, talvez a mais importante. Sociólogos como Durkheim definem como lubrificante social. Ele diz ‘o alimento e a bebida cumprem o papel, não só de suprir a necessidade material, mas de fornecer uma esfera de realização de prazer individual e coletivo’”, revela Henrique Carneiro, professor doutor especializado em história da alimentação da USP.
É só pensar em uma festa para lembrar de comida. Páscoa, Natal, aniversário, casamento, festa junina e até encontro informal nos fins de semana têm seus “pratos tradicionais”.
“Falo sempre que comida tem muita memória afetiva. Tem gente que pensa em uma comida e pensa na mãe. Essa memória afetiva da comida muitas vezes te pega pelo pé”, garante Maria Lúcia Tedesque, orientadora do Vigilantes do Peso. Palavra de quem já foi 20 quilos mais pesada e há 19 anos consegue se manter em forma.
A plataforma de um dos terminais de ônibus mais movimentados de São Paulo parece mais uma praça de alimentação. As opções são lanches e sucos industrializados. “Até pelo preço é muito convidativo. Se compararmos ao preço de uma fruta, um copo de leite, um pão com margarina ou uma fatia de queijo, isso é muito mais barato. Tudo muito atraente, mas péssimo em termos nutricionais”, explica Anita Sachs, nutricionista e professora da Unifesp.
A comida pronta está cada vez mais fácil. Entre as vitrines com toda a variedade de produtos que existem na região da 25 de Março, uma chama a atenção especialmente de quem está com fome. É uma vitrine de salgados. O cliente não precisa nem entrar na lanchonete, basta colocar a moeda, abrir a portinha e pegar o salgado.
Saudável não é, mas a comida fácil é uma tentação. Para manter a dieta é preciso lutar contra a grande oferta de comida, contra os instintos primitivos que teimam em não entender que o corpo não precisa mais armazenar tanta comida e contra a própria história da humanidade.
“Toda a história da humanidade é a história da busca pelo alimento. Na época das grandes navegações, quando a Europa estava isolada dos continentes que nem sequer eram conhecidos, foi o impulso da descoberta dos alimentos mais valiosos da época, as chamadas especiarias, que levou que Colombo viesse para América, que Cabral descobrisse o Brasil. O impulso da navegação foi a busca pela pimenta, pela noz moscada, da canela, do cravo, gengibre”, conta Henrique Carneiro.
A comida foi responsável também pelo começo da divisão de classes. Primeiro, quando todo mundo comia a mesma coisa, a distinção entre ricos e pobres era baseada na quantidade de comida a que cada família tinha acesso. “Quando vêm as especiarias, começa a existir uma distinção social. Só os ricos têm acesso a isso. Então passa a ser o que a gente chama de consumo conspícuo. Dá um status especial e esse status é que vai conferir às especiarias a condição de produtos mais valiosos do início da era mercantil”, afirma o professor.
Os temperos também deixaram as comidas mais gostosas e mais acessíveis. Pela segunda vez, a humanidade engordou. A primeira vez foi na Pré-História, quando descobriu a agricultura e parou de caçar. “Há outro período que é o da industrialização e da grande urbanização que é constitui as cidades e as populações rurais deixam de ter acesso à horta, de ter acesso ao pão caseiro e passam a ter tudo pela mediação do mercado”, explica.
A humanidade ficou mais gordinha e descobriu que gordura não era sinônimo de riqueza, mas de problemas de saúde.
da redação Maria Helena Araújo / jornalista / fonte Jornal Hoje
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