O escorbuto, uma doença historicamente associada com os marinheiros do
velho mundo que realizavam longas viagens, está reaparecendo na
Austrália devido a dietas pouco variadas, segundo autoridades de Saúde.
Causada pela deficiência de vitamina C, a condição costumava ser uma
maldição comum - e muitas vezes fatal - entre os navegantes que passavam
meses sem consumir frutas e vegetais frescos.
Hoje considerado raro, o escorbuto ressurgiu devido a maus hábitos
alimentares, segundo Jenny Gunton, que dirige o Centro de Pesquisa sobre
Diabetes, Obesidade e Endocrinologia do Instituto Westmead em Sydney.
Ela descobriu a doença após observar em vários dos seus pacientes feridas que não cicatrizavam.
"Quando perguntei sobre a dieta deles, uma pessoa disse que estava
comendo poucas frutas e vegetais frescos, e o resto comia quantidades
adequadas de vegetais, mas estavam cozinhando demais os alimentos, o que
destrói a vitamina C", disse a pesquisadora.
"Isso mostra que uma pessoa pode ingerir muitas calorias e mesmo assim não receber nutrientes suficientes", acrescentou.
O diagnóstico de escorbuto em 12 pacientes foi feito com base em exames
de sangue e sintomas. Todos foram curados com uma simples ingestão de
vitamina C.
A falta de vitamina C pode levar a uma formação deficiente do colágeno e
de tecidos conjuntivos, causando hematomas, sangramento na gengiva,
manchas vermelhas na pele, dor nas articulações e dificuldade de
cicatrização.
Entre os alimentos que evitam o aparecimento do escorbuto estão as
laranjas, morangos, brócolis, kiwis, pimentões e toranjas, mas o
cozimento em excesso pode destruir nutrientes essenciais.
'Não podia acreditar'
Penelope Jackson foi uma das pacientes diagnosticadas com a doença, e disse que ficou perplexa.
"Eu não podia acreditar. Pensei: 'peraí, o escorbuto desapareceu há séculos'", disse ao Sydney Morning Herald.
"É algo que você associa com a Primeira Frota e os dias de Arthur
Phillip e do capitão (James) Cook. Você não espera que ele esteja
presente no século XXI".
Phillip foi o primeiro governador do estado de Nova Gales do Sul, que
navegou com a Primeira Frota de colonizadores da Inglaterra em 1788,
enquanto o navegador e explorador Cook é reconhecido por ter sido um dos
primeiros a entender a relação entre frutas frescas e escorbuto.
Gunton, que publicou sua pesquisa sobre o ressurgimento da doença na
revista internacional "Diabetic Medicine", disse que pacientes obesos ou
acima do peso também podem sofrer essa condição.
O artigo relatou que não havia nenhum padrão social na incidência da
doença e que os pacientes com dietas pobres pareciam ter origens
socioeconômicas muito variadas.
"Esse resultado sugere que, apesar da grande quantidade de
recomendações de dieta prontamente disponíveis para a comunidade, ainda
há muitas pessoas (...) que não estão recebendo as mensagens", disse
Gunton.
"O corpo humano não consegue sintetizar a vitamina C, por isso temos de comer alimentos que a contêm", advertiu a autora.
Hoje em dia, as autoridades de saúde não costumam fazer exames para
diagnosticar o escorbuto, e o estudo de Gunton aconselha os médicos a
levarem em conta este problema potencial, especialmente nos pacientes
com diabetes.
"Principalmente se seus pacientes apresentam úlceras que não
cicatrizam, facilidade para ter hematomas ou sangramento de gengivas sem
causa evidente", disse.
No vídeo, a nutricionista Lara Natacci comenta sobre o ressurgimento do
escorbuto e sobre as diferentes formas de consumir vitamina:
alimentação ou suplementação.
Maria Helena Araújo/jornalista/ fonte G1. com
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