- AP/National Museum of Health and MedicineFoto de 1918 mostra vítimas da gripe espanhola sendo atendidas nos EUA
Peste negra. Varíola. Tuberculose. Gripe espanhola. Só o nome destas
doenças já causa arrepios e remete a momentos da história em que fomos
derrotados pelas epidemias. Elas causaram milhões de mortes, mas hoje
estão controladas ou extintas. Mas será que podem voltar
Recentemente, cientistas russos fizeram um alerta: as mudanças climáticas estão derretendo uma camada de gelo na Sibéria que contém vírus nocivos,
como a varíola, guardados ali há milênios. O temor surgiu depois que
uma criança morreu e outras 23 pessoas foram contaminadas no norte do
país por antraz, uma bactéria que estava desaparecida fazia 75 anos.
Para os pesquisadores, o ressurgimento da infecção aconteceu
provavelmente porque um cadáver de rena morta por antraz há décadas foi
descongelado na região.
O médico sanitarista Rodolpho Telarolli,
da Faculdade de Ciências Biológicas da Unesp (Universidade Estadual
Paulista), diz que a OMS (Organização Mundial de Saúde) pode avaliar
melhor o risco dessas doenças voltar, mas defende que hoje existem
técnicas mais eficazes para combater a varíola, por exemplo.
Para ele, muito mais perigoso é um novo vírus nascer:
Em
termos de letalidade, uma nova doença, como ebola e zika, é pior.
A ciência já sabe tudo sobre as velhas. Se for para acontecer algo ruim,
seria uma nova doença
Além disso, temos muitas doenças "vivas", como a gripe e a Aids, que ainda são um motivo real de preocupação.
Relembre 13 doenças temidas pela humanidade

Varíola
É considerada uma das primeiras doenças conhecidas pela humanidade.
Estudos indicam sua presença em humanos há cerca de 12 mil anos e no
faraó Ramsés 5º (f). Causada por vírus e transmitida pelo ar ou por
itens contaminados, tem sintomas parecidos com os da gripe, com
acréscimo de dores musculares, vômitos violentos e pústulas (bolhas) na
pele. Ficou ainda mais perigosa com a urbanização: no século 18, matou
400 mil europeus; e no século 20, 300 a 500 milhões no mundo todo. Após
campanhas de vacinação, foi considerada erradicada em 1979.

Gripe (sazonal, espanhola, aviária, asiática...)
A gripe matou e continua a matar muita gente, apesar das vacinas. O
vírus já foi responsável por várias epidemias ao longo da história,
sendo a mais grave a da "gripe espanhola", com 50 a 100 milhões de
mortes entre 1918 e 1919. Surtos de gripe asiática no fim da década de
50 mataram mais de um milhão de pessoas. Em 2009, veio o H1N1. Até a
gripe comum ainda mata muita gente todos os anos. Os sintomas incluem
febre, coriza, tosse, dor de garganta e cabeça. A transmissão ocorre
pelo ar e por itens contaminados.

Peste negra
Uma das doenças mais mortais da humanidade, transmitida por roedores.
Acredita-se que a devastadora pandemia da Idade Média matou de 75 a 100
milhões de pessoas. Apesar do ápice no século 14, foi recorrente na
Europa nos séculos seguintes e tornou-se um dos combustíveis para a
Renascença. Atualmente, surge ocasionalmente em algumas partes do mundo,
mas é controlada por antibióticos e inseticidas contra ratos. O risco
de a bactéria causadora sofrer uma mutação e ficar resistente aos
remédios existe. Os sintomas são febre alta, mal estar e manchas pretas
na pele (que deram origem ao nome da doença).

Tuberculose
Também é uma doença bem antiga, com vestígios em corpos de milhares de
anos. O maior surto ocorreu nos séculos 19 e 20, quando até 25% das
mortes na Europa eram por causa da doença. Em 2014, 1,1 milhão de
pessoas morreram em países subdesenvolvidos. Causada por bactéria, ela
afeta o pulmão. Os sintomas são tosse, febre baixa, cansaço, rouquidão
e, em casos graves, dificuldade na respiração e eliminação de grande
quantidade de sangue.

Aids
Desde o início da epidemia, na década de 80, 35 milhões de pessoas
morreram por causa do HIV. A Aids ainda é um caso de saúde pública não
resolvido e recebe esforços mundiais para combate-la. A transmissão
ocorre por relação sexual e contato com sangue infectado pelo vírus. Nos
últimos anos, o número de novos casos tem aumentado em alguns países,
inclusive no Brasil.

Cólera
O cólera é uma doença associada à falta de saneamento básico.
Transmitida por água e comida, a bactéria causa diarreia, vômitos,
desidratação e falência dos rins. Já matou um número difícil de estimar,
mas na casa de milhões. Normalmente, ocorre atrelada a pandemias
--teria matado mais de um milhão de pessoas na Rússia entre 1852 e 1860 e
mais de 800 mil na Europa, Ásia e África no início do século 20. A
cólera ainda está por aí. "No Brasil tivemos cólera faz 20 anos, e
depois ele foi erradicado. Mas no Haiti, depois do terremoto, o cólera
ficou endêmico", explica Telarolli.

Tifo
Na Grécia antiga, matou até 100 mil pessoas em Atenas. No século 17,
10% da população da Alemanha morreu em um surto. Já no século 19 matou
na Irlanda na casa de centenas de milhares em um curto período de tempo.
No século 20, atingiu a Rússia e deixou 3 milhões de mortos durante a
Guerra Civil. Os sintomas variam de acordo com a bactéria causadora, mas
envolvem dor de cabeça, febre, náusea, diarreia, dores pelo corpo e
vômito. A transmissão ocorre por piolhos que parasitam animais e também
contaminam o homem. A doença também está atrelada à falta de saneamento.

Febre amarela
A febre amarela ainda é uma doença recorrente. Transmitido pelo
mosquito Aedes, o vírus infecta 200 mil pessoas por ano e mata cerca de
30 mil, sendo a maioria dos casos na África. No século 19, matou mais de
100 mil pessoas nos EUA. Hoje, há vacina. Os sintomas costumam ser
fracos e semelhantes aos da gripe. Na forma mais grave, resulta em
insuficiências hepática e renal, olhos e pele amarelados e hemorragias.
"Araraquara (SP), por exemplo, perdeu 40% da população entre 1892 e
1899", diz o sanitarista.

Ebola
Apesar do temor em torno da doença e da alta taxa de mortalidade do
vírus, ele ainda não se espalhou pelo mundo. "É um vírus burro, porque
ele mata muito. As epidemias são auto-limitadas, porque nos vilarejos
afastados da África ele chega a matar 90% e esgota a população. A doença
acaba não causando grandes epidemias", afirma Telarolli. O maior surto
da doença, o mais recente, matou 11 mil pessoas entre 2013 e 2016. Mas
há o temor de mutações do vírus.

Sarampo
Ainda é muito relevante e já causou 200 milhões de mortes entre 1855 e
2005. Não costuma causar epidemias mortais, mas no Haiti, por exemplo,
matou 20% da população em 1850. Na década de 80, foram 2,6 milhões de
mortes por ano. A vacinação fez baixar as mortes para 114 mil, em 2014. A
doença é causada por vírus, transmitido entre humanos por objetos
contaminados. Os sintomas são parecidos com os da gripe, com erupções ou
manchas vermelhas no corpo.

Malária
Transmitido por mosquitos e animais, o parasita causador da malária foi
responsável por 438 mil mortes em 2015, 90% delas na África. A doença é
associada à pobreza. A OMS estima que em 2000 a doença chegou a causar
839 mil mortes. Entre os sintomas estão febre, vômito, diarreia e dor no
abdômen e músculos, sendo que um sintoma clássico é a sensação súbita
de frio seguida por calafrios.

Raiva
Apesar de rara, é mortal na maioria dos casos. O vírus é transmitido
por mordidas ou arranhões de animais infectados (em 99% das vezes por
cachorros). A vacinação humana e animal é fundamental na prevenção.
Lavar o ferimento logo após a mordida pode ajudar a salvar vidas. A
doença afeta o sistema nervoso e causa dezenas de milhares de mortes
todos os anos, a maioria (95%) na Ásia e África. Os sintomas são dores
pelo corpo, sensações de formigamento e queimação, medo de água,
inflamação do cérebro, hiperatividade e outros.

Poliomielite
A poliomielite não causa mais mortes, mas já foi a responsável por
inúmeros casos de paralisia infantil. A doença viral é transmitida entre
pessoas, sendo que 90% das infecções são assintomáticas. Em 1% dos
casos, o vírus alcança o sistema nervoso central e destrói neurônios
motores. A vacina surgiu na década de 50, quando os casos diminuíram de
350 mil em 1988 para apenas 74 em 2015.
Maria Helena Araújo/jornalista/fonte UOL Ciência e Saúde
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