Enquanto o ronco é só um problema social, a apneia é um fator de risco para diversas doenças
Aquele barulho produzido pelo seu parceiro quando está dormindo e não te deixa pregar os olhos pode não ser um mal apenas ao casamento, mas também à saúde de quem o emite. Isso porque o ronco pode ser indício de apneia – pausa respiratória que ocorre durante o sono. E é aí que mora o perigo.
O ronco, segundo especialistas, é considerado apenas uma doença social. Já a apneia é um fator de risco para doenças cardiovasculares e até alzheimer ou perda de memória. Mas é importante lembrar que nem todo roncador sofre de apneia.
"O ronco ocorre quando a via aérea está estreitada; já na apneia ela está totalmente fechada. Há uma má oxigenação do cérebro, que aumenta os riscos de infarto, AVC (Acidente Vascular Cerebral). Anos e anos de apneia também podem levar à perda de memória e ao alzheimer", observa o médico Gilberto Sitchin, especialista em sono do Instituto Paulista de Otorrinolaringologia.
A estimativa é de que 25% dos homens e 15% das mulheres ronquem ou apresentem apneia. Os ruídos noturnos são mais comuns entre os obesos e se tornam mais frequentes à medida que a idade aumenta.
"Nestes casos há um aumento da flacidez dos tecidos do pescoço e da orofaringe", observa o médico Arthur Castilho, otorrinolarigologista do Hospital das Clínicas da Unicamp.
Sitchin afirma que, além da observação do parceiro sobre o "roncador", ter sono durante o dia e acordar com a sensação de cansaço também podem ser sintomas de apneia.
"Quem sofre de apneia não tem um sono mais profundo e restaurador, por isso costuma apresentar um quadro de sonolência diurna excessiva", explica. O médico ressalta que a gravidade do problema é diagnosticada com uma polissonografia, um exame que faz um registro do sono habitual.
Saiba o que funciona para tratar o ronco13 fotos1 / 13
Responsável por péssimas noites de sono e até pelo fim de alguns casamentos, o ronco afeta aproximadamente 24% dos homens e 18% das mulheres de meia-idade, segundo a Associação Brasileira do Sono. Da bolinha de tênis no pijama até as cirurgias mais complexas, saiba o que funciona para aplacar o problema.
Tratamentos
O tratamento indicado para ronco e apneia do sono depende das causas. Quando o motivo é a obstrução nasal, tratamento de rinite e cirurgia para correção do septo nasal são opções para dar fim ao ruído noturno. Pacientes com amígdalas grandes também podem tê-la extraída.
Já se a causa é a flacidez do céu da boca, técnicas de enrijecimento e o uso de um aparelho de radiofrequência no local podem ajudar. "Entretanto, o ronco dificilmente tem apenas um único motivo. É preciso investigar", diz Sitchin.
Há ainda a opção de tratamento com laser, mas, segundo os especialistas, esta técnica causa dores aos pacientes para se alimentar e até respirar. "Há várias técnicas para diminuir o tamanho do palato (céu da boca) ou aumentar a rigidez. Usar o laser para fazer uma destas duas coisas é viável, mas é cada vez menos usado, pois a dor pós- operatória é intensa", explica Castilho, reforçando que a radiofrequência tem sido a opção mais usada pelos médicos.
Perda de peso
Em outros casos, a indicação médica é a perda de peso e o uso de aparelhos intraorais, feitos sob medida por dentistas especialistas em ronco. "O paciente dorme com o queixo meio centímetro à frente. Tem um efeito bom e é confortável", diz Sitchin.
Para os casos mais graves, no entanto, a saída é o uso contínuo do CPAP (na sigla em inglês, Continuous Positive Airway Pressure), um compressor que fornece um fluxo de ar contínuo de ar ao paciente durante o sono.
Vale lembrar que é normal roncar ao dormir de costas, pois a musculatura fica flácida e a língua cai um pouco para trás. Por isso, uma simples mudança de posição pode eliminar o ruído. Evitar bebidas alcoólicas e se alimentar duas horas antes de dormir são fundamentais para uma noite de sono em silêncio.
TIRE SUAS DÚVIDAS
O ronco é o ruído produzido no céu da boca e demais estruturas das vias respiratórias superiores durante a passagem de ar. O som é emitido porque há um estreitamento ou obstrução das vias áreas superiores
O ronco também pode ser um sintoma da apneia do sono, uma doença caracterizada pela pausa na respiração. Em adultos, essa interrupção é de pelo menos dez segundos
Algumas causas do ronco podem ser resolvidas com cirurgia em casos de desvio do septo nasal, pólipo nasal, amígdalas e adenoides hipertrofiadas. Doenças como sinusite e rinite também podem causar o ronco. Neste caso, é preciso tratá-las
O ronco também pode ser causado pela flacidez dos músculos da garganta e boca. Por isso, idosos roncam mais, pois há uma perda da musculatura com o avanço da idade
O céu da boca (palato) e a úvula aumentados também podem ser responsáveis pelo estreitamento das vias áreas durante o sono e, consequentemente, pelo ronco
A obesidade é um fator de risco para o ronco e apneia. Pessoas com circunferência de pescoço acima de 40 centímetros, homens com circunferência abdominal acima de 102 centímetros e mulheres, acima de 88 centímetros, integram o grupo de risco
O tabagismo e o excesso de bebida também são fatores de risco para o ronco e apneia
Evite ingestão de comida antes de se deitar. Dormir após as refeições é ronco garantido
Calmantes e remédios para dormir também podem provocar ronco
Dormir de costas pode fazer qualquer pessoa roncar. Portanto, tente dormir de lado. Isso já é um bom começo
A radiofrequência é utilizada por alguns médicos para o tratamento do ronco e apneia. São necessárias duas ou três sessões. Cada uma custa em média R$ 3.000, uma vez que os planos de saúde não cobrem este tratamento. O otorrinolaringologista Gilberto Sitchin, entretanto, ressalta que, mesmo com menos intensidade, o paciente pode voltar a roncar depois de dois ou três anos
De acordo com Sitchin, uma técnica alternativa à radiofreqüência é a injeção de substância esclerosante, a mesma utilizada para o tratamento de varizes. O valor de cada aplicação é de cerca de R$ 500
Conheça alguns mitos e verdades sobre o sono24 fotos13 / 24
O consumo moderado de bebida alcoólica relaxa e melhora o sono. MITO: o álcool facilita a pessoa a "pegar" no sono, porém piora sua qualidade geral. "Esta ação se deve tanto à alteração de hormônios e neurotransmissores envolvidos como também ao próprio metabolismo e eliminação do álcool pelo corpo", explica a otorrinolaringologista Ângela Beatriz Lana. E tem mais: como a bebida relaxa a musculatura da garganta, há uma tendência à piora do ronco e da apneia. "É comum o sujeito alcoolizado dormir bastante e acordar cansado e mal-humorado. Por isso, o álcool é um falso amigo, produzindo um sono de péssima qualidade, com arquitetura superficial e não reparadora", completa o neurologista Leandro Teles . Getty Images
da redação M\aria Helena Araújo / jornalista / fonte UOL Notícias Saúde